Vida boa longe da agitação
Cidade, que já foi uma das mais importantes vilas do ouro do estado, é boa opção para ser visitada e curtida. Berço de muita história, é ideal para quem busca tranquilidade
Paulo Henrique Lobato
Última das chamadas sete vilas do ouro em Minas, Pitangui, fundada por
bandeirantes paulistas, em 1715, é boa pedida para quem deseja passar um
fim de semana ou feriado prolongado longe dos grandes centros urbanos.
Casarões e fazendas coloniais, becos e outras paisagens bucólicas, minas
de ouro desativadas, pescaria nos rios Pará e São João, rica culinária e
um povo bastante acolhedor são algumas das muitas características dessa
cidade histórica do Centro-Oeste do estado, no sopé da Serra Cruz do
Monte, a 150 quilômetros de Belo Horizonte e com cerca de 25 mil
habitantes.
O Centro do lugarejo, também chamado de Velha Serrana, é tombado pelo
Instituto Histórico do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
(Iepha), num total de 16 ruas e becos e 132 imóveis. Por isso, uma dica:
comece seu passeio pelas ladeiras antigas, onde está a maior
concentração de casarões dos séculos 18 e 19. Lá também está a matriz de
Nossa Senhora do Pilar, erguida, na década de 1940, em substituição à
antiga igreja jogada ao chão por um incêndio.
Padre Belchior
Tanto o interior quanto o exterior da matriz merecem a atenção dos
visitantes. Do lado de dentro, painéis coloridos do artista Giancarlo
Scapolatempore, natural da cidade, contam passagens bíblicas. Do lado de
fora, um dos atrativos é a escada que dá acesso à igreja. É lá que está
enterrado o corpo de padre Belchior (1775-1856), conselheiro e
confidente de dom Pedro I (1798-1834) e personagem importante na
separação do Brasil do reino português.
Uma escritura na lápide do pároco informa que, em 7 de setembro de 1822,
às margens do Rio Ipiranga (SP), o imperador, tão logo recebeu a famosa
carta de José Bonifácio de Andrada, avisando-o da importância de a
independência ser declarada, perguntou ao amigo: “E agora, padre
Belchior?”. O pároco respondeu: “Se Vossa Alteza não se faz rei do
Brasil, será prisioneiro das cortes e, talvez, deserdado por elas. Não
há outro caminho senão a independência e a separação”.
Poucos metros acima da matriz, o imponente chafariz erguido na Praça
Getúlio Vargas, datado de 1835, também ajuda a contar a história do
município. Na parte frontal, o brasão do Império e a frase em latim,
Viva a Constituiçam. “O chafariz também era um espaço social, onde
escravos, por exemplo, se agrupavam para conversar”, conta o turismólogo
Leonardo Morato. Ele e três amigos – Dênio Caldas, Licínio Filho e
Vandeir Santos – montaram o blog Daqui de Pitangui
(http://daquidepitangui.blogspot.com.br/).
O site, criado para resgatar a memória histórica e divulgar a cultura da
cidade, sugere como passeio agradável uma ida à Serra Cruz do Monte, de
onde se avista toda a cidade. “É um dos cartões-postais do local. Lá,
há uma capelinha que foi erguida pelos escravos. A visão panorâmica da
região é única”, diz o historiador Licínio Filho, nascido na capital e
radicado em Pitangui há 12 anos.
Outra pedida é visitar, ou pelo menos apreciar, as fachadas dos casarões
antigos, como o que serviu de moradia a Maria Tangará, uma das mulheres
mais influentes do estado no século 18. Dona de grande extensão de
terra e de centenas de escravos, ela também é lembrada por moradores
antigos como uma das mulheres mais malvadas de sua época. Diz o dito
popular, por exemplo, que Tangará mandou arrancar os dentes de uma
escrava ao ouvir o marido elogiar o sorriso da negra. Hoje, o imóvel
abriga uma escola pública.
Aconchego
Pitangui tem bons restaurantes, que oferecem a típica comida mineira.
Para quem gosta de tomar uma cerveja gelada, a cidade conta com
movimentados bares. A rede hoteleira também é para todos os gostos, de
simples pousadas a hotel fazenda.
Para chegar ao município, siga de carro pela duplicada BR-262, em
direção ao Triângulo Mineiro, e, a cinco quilômetros de Nova Serrana,
entre à esquerda, na BR-494. A sétima vila do ouro fica 30 quilômetros
adiante.
Mãe de outras cidades
Mais do que a sétima Vila do Ouro – as outras seis, pela ordem
cronológica, são Mariana, Ouro Preto, Serro, São João del-Rei, Sabará e
Caeté –, Pitangui deu origem a várias cidades do Centro-Oeste mineiro.
Entre seus ex-distritos ou ex-povoados estão Pará de Minas, Bom
Despacho, Divinópolis, Luz, Martinho Campos e Nova Serrana. Pitangui foi
fundada por desbravadores paulistas e, hoje, uma das festas mais
tradicionais do município é a lavagem,
com mangueiras e baldes d’água, de uma estátua, no Bairro Penha,
erguida em homenagem aos bandeirantes que ajudaram a colonizar a região.
A festa ocorre no domingo de carnaval.
Estado de Minas
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